Resenha Pedagogia da Autonomia Paulo Freire

Magda Regina Ribeiro Braga/ Pedagoga/ Resumo

INTRODUÇÃO

Trata-se de uma breve síntese bibliográfica de cunho livre acerca da obra de Paulo Freire intitulada Pedagogia da Autonomia – Saberes necessários à prática educativa, que não tem a pretensão de esgotar as possibilidades todas de análise, sobre as questões conceituais e educativas, tampouco a de apontar possíveis diferenças de entendimento com os rumos do autor.
Propõe-se sim, a buscar os elementos mais significativos apenas, que se envolvem na formação técnica do profissional da educação, em relação ao aluno enquanto seja este um indivíduo ainda em construção, ainda em processo de formação de seu senso crítico. Resgata alguns conceitos a partir do corpo da obra de Freire, bem como faz dela uma rápida análise a partir de referenciais sociológicos.
Trabalho com a secreta intenção e motivação de poder ser útil, por intermédio de minha particular visão e minha compreensão a quem esteja, como eu, buscando ampliar não só os conhecimentos em si, mas enfim, toda uma visão de mundo.


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PEDAGOGIA DA AUTONOMIA [1]
Não Há Docência Sem Discência
A reflexão crítica sobre a prática se torna uma exigência da relação teoria/prática sem a qual a teoria pode ir virando um blábláblá e a prática,
ativismo (Freire, 1998, p. 24).
Não importa, em verdade, a linha pedagógica adotada pelo professor, seja ele um progressista ou um conservador, existem saberes necessários que ambas as linhas de pensamento devem seguir. Todo processo que vise o desenvolvimento de um modelo de ensino deve, basicamente, considerar também a direção dada à aprendizagem. Assim, o professor ensina e aprende ao mesmo tempo, não apenas no formato acadêmico, mas também na própria base de formação da ação.
Ao educador cabe instaurar o rigorismo do método, em função de despertar no educando a curiosidade aquela que busca o conhecimento, portanto insubmissa, e então, por extensão da idéia, formadora do senso crítico. Aprender criticamente é, em suma, formar a autonomia. Não é jamais, um estado de apropriar-se do conhecimento do mestre, mas um ato de formação e de interação da própria capacidade cognitiva do indivíduo com o meio. Assim, o mestre provém o aluno dos instrumentos apenas, do ferramental para a perfectibilização da formação crítica no indivíduo enquanto aluno.
Neste ato de formação da capacidade autônoma do indivíduo, surge uma das principais tarefas de importância do professor, qual seja, a de, considerando a visível importância do aprendizado e da execução de uma leitura crítica, em razão de ser ela a porta para todo o restante do processo de crescimento humano, fomentar o aprofundamento da consciência desse mesmo indivíduo em construção, no sentido de ele vir a capturar o significado de tal importância em sua particular existência.
Segundo palavras de Freire (id. p. 32), Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino.


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 Não se trata, segundo ele, de uma qualidade do professor, tampouco de uma metodologia de ensino, mas sim, deve inserir-se em um projeto maior e de mais alcance, ou seja, deve se dar um verdadeiro acompanhamento de todo o processo que é e que envolve a vida daquele indivíduo que vem junto a si aprender. Neste sentido, é básico que o modelo escolar como um todo seja construído no rumo da administração de uma conduta respeitosa quanto aos saberes inerentes ao meio social do indivíduo. Ao ensinar os conteúdos, o professor deve ser capaz de apresentá-los com elementos e subsídios saídos do cotidiano daquele que aprende, o que, por si só, já é um dínamo facilitador do aprendizado.
Não só o ato de aprender necessita da existência de senso crítico, mas também o ato de ensinar o exige, uma vez que se busque o rigor e a exatidão, na tentativa de ministrar os conceitos e os conteúdos, os atos e as demonstrações educativas. Baseado no rigorismo e na exatidão pode o professor administrar a curiosidade do aluno, conduzindo-o à inquietação e, portanto, à própria criatividade resolutiva de situações e desenvolvimento da autonomia.
Dentre os recursos que apresenta o mestre, é básico que demonstre aos seus alunos a coerência em sua postura humana e em suas idéias. O que diz precisa, necessariamente, andar casado com os exemplos que dá aos alunos. Assim, a formação moral, para que seja transmitida com toda uma base específica ou com todo um fundamento ético, necessita de um aprofundamento não só naquilo que se transmite, mas na própria atuação particular do professor. Esse aprofundamento necessário, no tocante à moral do educador, é exatamente o fator que poderá permitir-lhe uma participação livre do medo e do risco de expor suas idéias e seus conceitos, bem como isenta-o de uma atuação discriminatória quando é o outro indivíduo que se expõe. Trata-se de uma certeza no modus vivendi servindo de base ou de modelo indireto à formação de outro indivíduo.
A experiência histórica, política, cultural e social dos homens e das mulheres jamais pode se dar "virgem" do conflito entre as forças que obstaculizam
a busca da assunção de si por parte dos indivíduos e dos grupos e das forças que
trabalham em favor daquela assunção (id. p. 47).



Ensinar Não é Transferir Conhecimento
Quando entro em sala de aula devo estar sendo um ser aberto a indagações, à curiosidade, às perguntas dos alunos, a suas inibições; um ser crítico
e inquiridor, inquieto em face da tarefa que tenho – a de ensinar e não a transferir conhecimento (id., p. 52).
O saber científico que o professor apresenta aos alunos é de suma importância no processo de ensinar, mas nem de longe o é absoluto, na medida em que se deve dar espaço aos valores inerentes à formação tanto do caráter como do senso crítico, embasados que são em conteúdos intrínsecos ao que de humano possuímos. É preciso que se leve em consideração, tanto ao aprender quanto ao ensinar, as medidas possíveis das quais dispomos, seja as de superação, seja as de falibilidade na atuação particular a cada indivíduo.
É o meu bom senso que me adverte de que exercer a minha autoridade de professor na classe, tomando decisões, orientando atividades, estabelecendo tarefas, cobrando a produção individual e coletiva do grupo não é sinal de autoritarismo de minha parte. É a minha autoridade cumprindo o seu dever (id., p. 68).
Muita confusão se faz ainda, tanto nos meios como nos modelos escolares a respeito da questão da autoridade. Pessoas há que definem de forma confusa os limites entre a autoridade e o autoritarismo e, por extensão, da licenciosidade com a liberdade. Não é preciso que se utilize de elementos autoritários, a conseguir a adesão do educando ao modo de condução do processo escolar como um todo, tampouco na condução mais particular de sala de aula, mas que se possa dispor sempre, isto sim, do bom senso, da lógica construtiva e de um engajamento profundo, na busca da construção da pretendida autonomia.
O ato de ensinar deve ser revestido de um envoltório político, basicamente porque inerente ao homem e suas peculiaridades sociais, mas jamais potencialmente partidário ou ideológico, embora deva ministrar os conhecimentos no sentido de uma conscientização da extensão da realidade social de cada um. Ao formar seu senso político de forma não ideológica, não impositiva, mas por atuação crítica, o indivíduo desenvolve as ferramentas a por si só, desviar-se de elementos antagônicos ao desenvolvimento social. Se ele o faz, contudo, pautado em ideologias politiqueiras, torna-se um refém de sua própria condição social e, por vezes até escravo dela.
Ao apropriarmo-nos do saber científico, assim como dos conhecimentos vários, de um modo geral, desenvolvemos, além dos indivíduos, numa ótica particular, toda a sociedade, na medida em que passe ela a utilizar-se dos novos recursos disponíveis a tornar possíveis melhorias na execução de serviços e tarefas em favor das pessoas.
Não há assim, uma forma de atuação neutra em todo o âmbito social, mas há sim uma interação contínua, mesmo que se dê de uma forma negativa ou passiva, entre os indivíduos. Não há como se possa desconsiderar a necessidade premente de todos os indivíduos poderem alcançar um determinado patamar ou uma determinada condição educacional, não importando de onde venham ou qual a sua condição social de origem.

Ensinar é Uma Especificidade Humana
O ato de ensinar, segundo Freire (id. p. 102), exige segurança, competência profissional e generosidade. Professores há que, embora tecnicamente preparados não dispõem das capacidades mais básicas como, por exemplo, a capacidade de doação. A capacitação humana dotada de valores morais e éticos pelo professor envolve aquele que aprende na confiança e no respeito, tanto de seus particulares princípios como de seu entendimento de mundo.
A necessidade mais básica aos atos de ensino e de aprendizado anda estreitamente ligada ao modelo democrático de atuação. O falar e o escutar devem ter um mesmo peso ao menos, senão mais ao escutar o outro. O conhecimento não pode ser imposto ao outro, ou colocado imperativamente, em conformidade com um modelo determinado antecipadamente, mas sim deve ser construído em conjunto, de uma forma aberta, interativa e interdisciplinar.
Isso porque se dispusermos de um ensinamento ministrado de forma impositiva, por certo longe estaremos do ideal democrático que se impõe acima de qualquer outro, qual seja, o diálogo aberto e pleno, a valorização interativa dos saberes individuais ou ainda, a comparação dialética desses saberes e das cognições. Vê-se, portanto, que ao mestre de capacidade humana desenvolvida são inerentes posições ou intenções como a do querer bem ao seu aluno e de respeitá-lo; de tolerá-lo de forma humilde e alegre; de estar receptivo aos novos paradigmas e aos novos entendimentos, à esperança e à justiça, sob pena de não estar apto a uma prática pedagógio-progressista.

CONCEITOS
A Educação
No entendimento de Paulo Freire, a educação não é apenas uma ação singular onde, em bancos escolares, educandos recebem verdades impostas pelo mestre, sem que haja respeito e diálogo aberto. Não deve ser um simples repasse de conteúdos e de saberes.
Educação é o ato de pensar e ensinar; é o aprender a pensar certo, ato que necessita de respeito face ao educando e ao educador. A educação precisa de diálogo, de ação crítica e de reconhecimento por parte do educador acerca dos saberes trazidos pelos educandos. A educação deve embasar a luta para melhores condições de vida.

A Escola
Deve ser antes de mais nada um local aberto à alegria, ao diálogo, à franqueza, à beleza e acima de tudo, com as condições devidas para que tanto o aluno como o professor sintam-se valorizados, respeitados e amparados. A escola deve ser um ambiente totalmente livre de preconceitos e de discriminações, onde se pode pensar certo, buscar a compreensão do outro e principalmente, onde se pode ver o desenvolvimento da cultura de um povo. Ela deve ter as condições materiais para que educador e educando se desenvolvam sem constrangimentos.

A Sociedade
Para Freire a sociedade como homens e mulheres, se faz historicamente e em lutas por direitos, em conscientização dos deveres; deve tratar de despertar os indivíduos a não aceitarem calados as suas condições sub-humanas de vida. Deve esforçar-se por demonstrar ao indivíduo que busca aprender, que uma vida miserável não é apenas uma situação única do indivíduo e responsabilidade unicamente dele, mas sim que existe todo um ato político e histórico que acaba por fazer com que ele venha a encontrar-se em uma tal situação.

A Democracia
Uma ação de diálogo e de solidariedade, onde qualquer luta do cidadão deve passar pelo recebimento e pela doação de respeito, pelo desenvolvimento da dignidade do homem em face as várias políticas. Trata -se de um ato de pensar criticamente e a possibilidade de agir pelo bem e sempre em busca de melhores condições de vida.

A Autonomia
É a confiança no seu histórico particular, é o desenvolvimento desta confiança, com ações de auto determinação, de respeito e de democracia. É o pensar certo, de olhar o mundo buscando sempre o fundamento das coisas, é ter a responsabilidade sobre os seus atos e assumi-los, ou ainda, é ter a transparência em sua fala e a coerência em suas ações.

O Professor
É um ser que deve ter sempre em primeiro plano o compromisso com a verdade e que deve expô-la em suas ações, que deve ler o mundo sem descuidar de ler a palavra, que precisa ouvir os seus alunos sem com isso jamais calar-se, que deve lutar pela dignidade de condições para seu ato (trabalho, salário). Não apenas repassar as verdades prontas, mas dialogar sobre estas verdades. Deve ter a liberdade de optar pela autoridade à licenciosidade dos descompromissados e autoritarismo dos fracos que temem sempre ser julgados. O professor opta pela liberdade e pela beleza, luta e se anima pela esperança, vê o sol nos olhos de uma criança em um dia chuvoso de fome e descaso. É o ser que ama o inacabado acima de tudo, que tolera e ensina, que sabe-se também inacabado, admite isto e aprende.

O Aluno
O aluno é um indivíduo repleto de culturas e de saberes desenvolvidos fora da escola, que vem a ela em processo de formação, aberto, inacabado, curioso, inteligente, é um ser que merece todo o respeito e toda a dignidade no ato de aprender. Diz o autor, textualmente (id., p.), (...) jamais pude entender a educação como uma experiência fria, sem alma, em que os sentimentos e as emoções, os desejos, os sonhos devessem ser reprimidos. Exatamente assim é que vejo os professores e os alunos, serem com alma, sonhos, emoções e desejos, ávidos por ensinar e aprender.

ANÁLISE DA OBRA

Freire nos mostra, não apenas nesta sua obra, mas em todas as suas outras, o comprometimento que tem com a verdade e com a criticidade que lhe é peculiar. Sem deixar de lado, por nenhum momento, o seu espaço humano e humanizador, deixa-nos à vontade para ver como somos incompletos e que não estamos sós, abre espaço para a nossa reflexão e nos posiciona entre a teoria e a prática, na medida certa do humano e científico.
Relacionando esta obra com o estudo da sociologia, vê-se que Freire é um marxista e sempre ao longo de sua vida, lutou pela dignidade dos desfavorecidos na sociedade, através de muitos embates pela reforma agrária, pelas classes trabalhadoras e pelos camponeses. Tentou levar ao povo saberes necessários para a conscientização e não para a conformidade de suas condições. É possível dizer que Freire dispunha de uma visão da sociedade embasada no paradigma do conflito, onde a sociedade compõe-se de vários grupos em situações conflitantes e a dominação que é feita por imposição da classe dominante.
Como Illich, é considerado um utópico, pois acredita na educação como libertadora, que vem mostrar a responsabilidade social e política de cada indivíduo, buscando mostrar sempre a relação teoria e prática, através da reflexão que gera uma nova ação, visando a educação como um ato que subsidia a formação conscientizadora para a luta pelas classes desfavorecidas em função de melhores condições e o não conformismo pela dominação radical, seja ela de direita ou de esquerda.

CONCLUSÃO

Cabe ao professor buscar cada vez com mais intensidade tanto o conhecimento como o aprimoramento técnico, muito embora não deva nunca descuidar do sentido humano, ou seja, precisa ter em conta sempre que o indivíduo aquele que dele aprende, deve ser tratado com tolerância, respeito, carinho e doação.
Ao mesmo passo é preciso, mesmo estando permanentemente rumando no sentido da construção da autonomia em outro ser, tratando com elementos sociais de sensibilidade individual pertinentes a outro indivíduo, que atue no sentido de um modelo social político que possa garantir sua subsistência e dignidade profissional.
O professor, no ato de ensinar deve ser coerente quanto à atitude que toma e o texto que prega. Deve ser capaz de avaliar sua prática e de estar aberto aos novos conhecimentos e às novas técnicas que a todo momento surgem. Tem que ter a visão moldada a reconhecer os elementos pertinentes a uma determinada cultura e relacioná-la com os elementos que nela vivem. Deve dispor da curiosidade e enfim, da alegria e da esperança.



REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
1 FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia – Saberes Necessários à Prática Educativa. São Paulo : Paz e Terra, 1996.
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